A geometria do corpo
O Pantheon, regido pela simetria, aparenta ser uma extensão
do corpo humano. O jogo simétrico de quadrados e curvas lembra alguns dos mais
famosos desenhos de Leonardo da Vinci e Serlio, mostrando o corpo masculino nu
com braços e pernas estendidos, onde desenhou-se uma círculo perfeito em torno
dos membros esticados, o centro no umbigo do homem e as pontas dos seus dedos
no lugar dos vértices do quadrado perfeito.
No livro “Da simteria: nos templos e no corpo humano”,
Vitrúvio relaciona as disposições regulares do corpo às que a arquitetura do
templo deve obedecer.
Um templo deveria ter frações iguais e opostas, exatamente
como os lados do corpo. Vitrúvio imaginava que os braços eram ligados às pernas
pelo umbigo, ou seja, pelo cordão umbilical – a fonte da vida. Baseado na
disposição e nas relações simétricas do corpo humano com o círculo e o quadrado
perfeito,moldou-se o Pantheon, onde o quadrado estava inscrito dentro do
círculo e posteriormente inspirou os desenho de Leonardo da Vinci e Serlio. Sua
crença fundamentava-se na escala do corpo humano, com base na qual o arquiteto
devia modelar o prédio a ser construído.
A criação de uma
cidade romana
O chão do Pantheon trata-se de um tabuleiro de quadrados de
mármore, pórfiro e granito, alinhados na direção norte-sul. Projetistas
imperiais do tempo de Vitrúvio planejaram cidades inteiras fazendo uso do mesmo
sistema, criando tabuleiros de ruas em torno de áreas ilhadas no seu interior.
Embora não tenha sido criada por eles, esse tipo de desenho
urbano ficou conhecido como rede romana, onde foram erguidas as mais antigas
cidades seguindo este mesmo modelo. Para fundar uma cidade, ou reconstruí-la,
após a conquista, os romanos estabeleciam o ponto que chamavam umbilicus – um centro urbano
equivalente ao umbigo humano, servia como ponto de partida para o cálculo da
geometria urbana; a partir daí, os projetistas mediam as distâncias e as
dimensões de cada espaço a ser construído.
Sempre em ângulos de noventa graus, as duas ruas principais
cruzavam-se no meio da cidade, criando-se quatro quadrantes simétricos, depois
repartidos em outros quatro, e assim sucessivamente, até que as regiões da
cidade tomassem a forma do pavimento do Pantheon.
Esse centro urbano tinha um grande valor religioso. Abaixo e
acima dele, os romanos imaginavam que a cidade conectava-se com os deuses
entranhados na terra e com os deuses de luz, no céu. No início da construção da
cidade, frutas e outras oferendas, trazidas pelos engenheiros de seus lugares
de origem, eram colocadas na cova, cumprindo o ritual que tinha em vista
agradar aos “deuses infernais”. Finalmente, por cima da pedra quadrada
acendia-se um fogo e só então o “nascimento” da cidade era tido como um fato.
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