A despeito de
todas as dificuldades e desafios impostos a um imperador romano, era essencial
garantir os espetáculos encenados para celebrar a glória de Roma. Dentre as
histórias contadas, estava a do assassinato do arquiteto Apolodoro a mando do
imperador Adriano.
Tal
história, provavelmente falsa, narrava a construção do Templo de Vênus, que foi
erguido sobre os escombros da Casa Dourada de Nero, tendo sido dedicado aos
cidadãos romanos, já que a mensagem de Adriano era que “o Estado pertence ao
povo e não a mim”, populi rem esse, non
propriam.
Diz-se que
Adriano enviou as plantas do Templo a Apolodoro, e este fez duras críticas ao
projeto, afirmando que o Templo de Vênus não conseguia simbolizar sua unidade
com o povo, fato este que levaria Adriano a quebrar seu elo mais importante com
seus súditos. Assim, para proteger tal vínculo, mandou assassinar o crítico de
sua obra.
Os romanos
cunharam a expressão “teatrummundi”, que significa “o mundo é um palco”, de
forma que eles passaram a dar crédito apenas ao que os seus olhos viam. Era o
que se conhece hoje por “culto às aparências”. Os romanos institucionalizaram
seu modo de tomar as aparências literalmente.
Dotados de
forma circular ou oval fechada, os anfiteatros romanos foram palco de lutas
mortais de gladiadores, de homens e mulheres lançados indefesos às garras de
leões, ursos e elefantes. Criminosos, desertores, hereges e cristãos eram
torturados, crucificados ou queimados vivos. Mas esta casa de horrores dava
mais do que prazer sádico ao seu público: ela embrutecia o povo ante as
carnificinas que precediam as conquistas imperiais.
Outra grande
utilidade dos anfiteatros era a de personificar os deuses em suas histórias
míticas: certa fez, Átis foi castrado e Hércules foi queimado vivo. Orfeu,
vestido com pele de animal, foi de repente devorado por um urso.
Para
representar melhor a realidade, os romanos recorreram principalmente à mímica e
à pandomima, que é uma modalidade de teatro gestual, valorizando a forma
perfeita e a estética da linha do corpo, pois é através dele que tudo será
dito. A gesticulação política chegou até ao fabrico de moedas eloquentes,
demonstrando em suas faces muitas informações, criando um vínculo indissolúvel
entre a representação e os atos dos governantes.
Ao invés de
promover uma cena inédita, fora do comum, os romanos preferiam repetir centenas
de vezes, por exemplo, a cena de um miserável vestido adequadamente, que logo
era identificado como Orfeu, e logo evocava no público o seu terrível destino
de ser devorado vivo por um urso. A repetição parecia gravar com muito mais
força a imagem na mente do espectador. Talvez por isso nota-se uma certa
escassez de imagens visuais na cultura romana.
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